SUMMARY
Eça de Queirós impulsionado por circunstancialismos histórico literários, como a apreciação da tradição medievale a influência da pressão exercida por um espírito finissecular saturado da ciência e da civilização, cultivou, além do conto realista, contos inspirados no modelo tradicional da literatura oral com intuito pedagógico, aproximando-os da modernidade, através da inovação. Nessas composições, a estruturação tradicional passa a ser diluída em uma arquitetura narrativa apoiada no implícito, indiciado por diferentes recursos estilísticos e estratégias discursivas, como o uso do pormenor, da adjetivação sugestiva e de elementos da natureza de forma simbólica, efetivados por meio de uma fina ironia, que se relacionam, por sua vez, a uma temática recorrente na produção do autor: a oposição entre homem e natureza. A análise do conto “As Histórias. Frei Genebro” discute, pois, como a estratégia sutil que coloca em cena um elemento altamente significativo, nomeada como “estética do pormenor” (REIS, 2000), aliada ao modo de desenvolvimento dos recursos estéticos elencados revelam o objetivo crítico implícitopautado na reflexão sobre o homem e sua capacidade analítica interior. A argúcia crítica de Eça mira o passado para refletir sobre o homem – do passado e do presente – em suas idiossincrasias e fraquezas. A despeito da atemporalidade da questão, a recriação da matéria é sempre perpassada pelo espírito de seu tempo e pela ironia característica do autor, exigindo uma leitura atenta e ativa. Assim, nossa discussão a respeito do pormenor, da ironia e da análise interior do personagemapoiam-se em Barthes (2011), Reis (2000), Duarte (2006), Brait (2008) e Alves (2009).