SUMMARY
Este artigo apresenta uma das variedades presentes no léxico português, que é a gíria, falada em especial por adolescentes e/ou jovens que se encontram em privação de liberdade, os acautelados. Essas gírias são consideradas herméticas, logo difíceis de serem compreendidas por aqueles que não estão inseridos no grupo, sendo, por isso, uma forma de proteção e identificação dos membros, determinando a identidade cultural dos falantes, moldam aspectos de sua personalidade que vão além dos aspectos linguísticos. Para esses usuários há uma necessidade de criar um signo linguístico próprio, não porque desconheçam outros níveis linguísticos, mas porque eles têm como objetivo a busca da proximidade com quem ele fala e a criação de efeitos de sentidos que outras palavras não oportunizariam criar. O estudo busca a partir do início de uma análise realizada com um corpus léxico, mostrar de que forma, jovens acautelados criam gírias, sem conhecimento dos recursos linguísticos. A partir desse recurso linguístico, os jovens constroem laços sociais e lidam com o mal-estar contemporâneo, conseguindo, de alguma maneira, encontrar um lugar no meio social, endereçando seu sofrimento pela via do simbólico. Apresentando esse universo linguístico que circunda o uso da linguagem gíria, espera-se uma melhor contribuição para a valorização dessa variedade linguística que, apesar de constituir-se um fenômeno imprescindível no processo natural de renovação da língua, ainda é, por muitos, estigmatizada. Espera-se que este estudo facilite a prática de diversos profissionais que convivem com esses jovens acautelados, buscando uma melhor compreensão da temática e permitindo nortear pesquisas futuras.