SUMMARY
Há algum tempo, temos visto autores negar a separação entre textos literários e textos conceituais. Um dos autores mais relevantes para esse tema é Roland Barthes. No entanto, em um de seus artigos mais famosos, Escritores e escreventes, Barthes parece adotar essa distinção para descrever o trabalho de escrita. Os escritores são aqueles que trabalham a língua ela mesma, enquanto os escreventes estão preocupados apenas com o desenvolvimento de um pensamento. A língua seria, para eles, um mero instrumento de transmissão de ideias. Proporemos, neste artigo, uma outra leitura dessas noções, mais atentas aos papéis sociais que desempenham os escritores e os escreventes do que às diferenças de seus trabalhos linguísticos. É assim que é possível entender a aparição da figura do escritor-escrevente, caracterizada pela exclusão social. A análise dos diferentes estatutos do trabalho com a língua mostra-nos que os questionamentos sobre a escrita estão sempre relacionados a uma reflexão sobre o seu caráter político.