SUMMARY
Atualmente, no cenário sociopolÃtico do Brasil, novamente a questão da memória sobre a ditadura militar está em alta nas mÃdias, redes sociais e em debates acadêmicos e polÃticos. A onda conservadora que predominou no cenário polÃtico mundial nos últimos anos, também exerceu influência sobre a nova configuração da memória acerca da ditadura militar brasileira, na qual o Estado, expresso na figura daquele que exerce o Poder Executivo, passou a glorificá-la. O presente artigo se insere na discussão desta memória, por meio da análise do filme âHistórias que Nosso Cinema (Não) Contavaâ (2017), de Fernanda Pessoa, a partir da reflexão da teoria da partilha do sensÃvel de Jacques Rancière. A primeira parte do artigo traz uma análise historiográfica sobre a conjuntura sociopolÃtica que levou ao golpe de 1964, destacando as tensões da época e as inserindo na interpretação de Rancière sobre polÃtica e partilha do sensÃvel. Na segunda parte, discorre-se sobre a memória da ditadura militar e seu viés conciliatório. Após, analisa-se a construção da narrativa e da memória polÃtica presente no filme âHistórias que Nosso Cinema (Não) Contavaâ. à tÃtulo de considerações finais, constata-se que a não aceitação da diferença, nos mais diversos nÃveis, é fator importante na ascensão de regimes autoritários. Faz-se necessário a confrontação e contestação de versões deturpadas a respeito da ditadura militar, bem como a responsabilização dos culpados pelos crimes perpetrados