SUMMARY
O trabalho busca compreender como os repertórios da ajuda, da amizade, da família e da gestão – utilizados pelos principais atores econômicos e políticos da cidade de Itaperuna, no noroeste fluminense, ao tratar do "desenvolvimento regional" – demarcam o universo moral no qual se constroem e legitimam formas contemporâneas de coronelismo. A noção de coronelismo – cunhada na década de 1940 para descrever a inserção dos municípios interioranos na república oligárquica, conhecida como República Velha (1890-1930) – tende a ser considerada na discussão política contemporânea como inadequada. Contudo, a pesquisa de campo, realizada entre 2015 e 2016, leva-nos a crer na pertinência analítica dessa noção. Permanece a penúria econômica de um empresariado isolado que prospera e decai com os ciclos econômicos, bem como a dependência econômica do município de repasses do governo central, além do cultivo de uma causa local que obriga o alinhamento político automático com a situação estadual e nacional.AbstractThe article seeks to understand how the repertoires of help, friendship, family and management – used by the main economic and political actors of the city of Itaperuna, in the northeast of Rio de Janeiro, when dealing with “regional development” – demarcate the moral universe in which construct and legitimize contemporary forms of “coronelismo”. This notion – coined in the 1940s to describe the insertion of the interior municipalities into the oligarchic republic, known as the Old Republic (1890-1930) – tend to be considered in contemporary political discussion as inadequate. However, field research conducted between 2015 and 2016 leads us to believe in the analytical relevance of this notion. There remains the economic shortage of an isolated business that thrives and decays with economic cycles, as well as the economic dependence of the municipality on central government transfers and the cultivation of a local cause that requires automatic political alignment with the state and national situation.