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O tédio incompreensível de Julien Sorel, ou sobre a atualidade do realismo

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O presente ensaio busca entender e extrair algumas implicações de uma escolha algo enigmática feita por Auerbach no capítulo de Mimesis dedicado aos realistas franceses: para discutir o papel fundamental de Stendhal na consolidação do que chama de “estilo médio” ou representação “séria”, Auerbach seleciona uma cena de importância secundária em O vermelho e o negro, com o tédio nela professado por Julien Sorel sendo caracterizado pelo crítico como “quase completamente incompreensível sem o conhecimento mais exato e detalhado da situação política, da estratificação social e das condições econômicas de um momento histórico muito definido, a saber, a França pouco antes da revolução de Julho” (AUERBACH, 2002, p. 406). É justamente sobre essa suposta incompreensibilidade que este ensaio se debruça: primeiro, ao apresentar um sentido genérico para a cena que independe do conhecimento tido como pré-requisito por Auerbach, calcado principalmente no estudo de Franco Moretti sobre o romance de formação; na sequência, amparado por um ensaio recente de Jacques Rancière sobre Auerbach, que também se detém sobre as razões para essa curio­sa escolha de Auerbach; por fim, com base na concepção do realismo desenvolvida por Fredric Jameson em The Antinomies of Realism, o ensaio busca sugerir uma ideia do realismo que se pretende relevante para o presente, e que passa ao largo da retórica do “realismo formal” de Ian Watt.

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