SUMMARY
A sociedade do Antigo Regime foi marcada por diversos tipos de conflitos. Não apenas revoltas e rebeliões, mas também tensões e micro conflitos entre grupos dessa sociedade. Da mesma forma, essa conflitualidade foi uma característica profunda e endêmica no ambiente religioso. As mulheres, como parte integrante dessa sociedade, fossem leigas ou religiosas, também estiveram envolvidas em contendas. Há de se entender como elas agiram e reagiram nessas situações, cuja defesa de seus interesses foi necessária. Para tanto, neste artigo pretende-se analisar a crise que se estabeleceu na vida religiosa do Convento de Sta. Mônica de Goa a partir da contenda com o arcebispo de Goa e prelado do convento, D. Fr. Inácio de Santa Teresa, entre os anos de 1723 e 1738. A análise das cartas produzidas pelas religiosas e de outras enviadas pelo arcebispo, por vice-reis e pela coroa, em cruzamento com outras fontes documentais, como o Livro das Profissões, normas monásticas, ordens e requerimentos, possibilitam a compreensão de detalhes da contenda e dos pontos de vista dos envolvidos. Portanto, tendo como foco principal o protagonismo das religiosas rebeldes, poder-se-á refletir sobre como elas se posicionaram contra as determinações episcopais e reagiram aos ataques dos opositores, angariando o apoio de outras instituições religiosas e civis a fim de defender seus interesses.