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Editorial

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Na última edição, a fechar o ano de 2020, alertávamos para a importância da robustez do Sistema de Saúde, numa altura em que o país parecia estar a gerir com sucesso os impactos da pandemia e, mais, atento à necessidade de apoiar e recuperar as áreas mais afetadas da economia. Lamentavelmente, as primeiras semanas de 2021 trouxeram-nos uma realidade bem mais dramática, forçando um novo confinamento em relação ao qual apenas começamos a assistir às primeiras medidas de alívio já à beira de entrar no segundo trimestre. A capacidade de resistência e adaptação dos serviços de saúde a um fenómeno nunca antes vivido, apenas estudado e remontando a tempos longínquos que em nada se assemelham com a modernidade, tem sido o grande receio que norteia a reação à crise pandémica. O Sistema de Saúde foi mais uma vez colocado à prova e graças a esforços múltiplos, que envolveram a cooperação internacional, podemos hoje viver dias mais tranquilos, sem nunca perder de vista, no entanto, que a ameaça continua à porta. Efetivamente, são vários os países europeus que atravessam novas vagas de disseminação da pandemia em larga escala, lembrando que enquanto não for possível ter uma grande parte da população imunizada será essencial manter as medidas de prevenção da infeção, que passam necessariamente por uma redução de contactos ao estritamente essencial.Já no novo ano, a tão aguardada disponibilidade de vacinas traz-nos a esperança de reaver alguma capacidade de controlo sobre as nossas vidas, vislumbrando (num tempo talvez não tão próximo) um contexto de “normalidade” pré-pandemia. Contra todos os procedimentos sequenciais que tradicionalmente compõem o edifício regulamentar do medicamento, indústria farmacêutica e autoridades reguladoras mostraram uma resiliência notável à adversidade do contexto, proporcionando a disponibilização de novos medicamentos (no caso, vacinas) num tempo absolutamente impensável em quaisquer outras circunstâncias. O inovador processo de rolling review permitiu que as agências reguladoras fossem avaliando os resultados da investigação clínica à medida que os mesmos se faziam disponíveis, permitindo assim ganhos de eficiência no processo de investigação, encurtar etapas e garantir a possibilidade de acesso a ferramentas tão poderosas como as vacinas, enquanto vetores de imunização da população contra uma ameaça global. São conhecidos os problemas de abastecimento, expectáveis nesta fase precoce de comercialização, mas confia-se que a breve trecho as campanhas de vacinação poderão decorrer com toda a normalidade.A situação que vivemos demonstrou que a inovação terapêutica é fundamental para responder aos desafios da Saúde Pública, veja-se o declínio dramático das taxas de infeção em territórios que já exibem uma cobertura vacinal expressiva, como é o caso de Israel. A resposta rápida da indústria farmacêutica, com apoio financeiro público, parece ter sido determinante para controlar uma catástrofe anunciada.Em tempos de pandemia, a Saúde passou para o centro da agenda política. Admite-se finalmente, perante um contexto particularmente penoso, que a manutenção da Saúde da população não pode ser tida apenas como um fardo, uma rúbrica da despesa em cima da qual os holofotes da contenção de gastos incidem energicamente, justificando antes ser considerada como um investimento estratégico, necessário e fundamental para o desenvolvimento sustentado do país.Vivemos toda esta sequência de acontecimentos em plena Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, que “pretende impulsionar a capacidade de preparação e resposta coordenada a ameaças e emergências de saúde pública, dentro e fora da UE, dando prioridade à cooperação reforçada entre os Estados-Membros e ao reforço do mandato das agências europeias”. Neste âmbito, destacamos que, com o objetivo de contribuir para assegurar uma maior disponibilidade de medicamentos e de vacinas a preços acessíveis, assim como de equipamentos e dispositivos médicos, será organizada uma Conferência sobre o Acesso a Medicamentos, em abril, em Lisboa.Nesta edição da RPF publicamos o artigo de original “O que sabem médicos e enfermeiros sobre medicamentos look-alike, sound-alike e de alerta máximo”, e os artigos de revisão “A resposta das tecnologias de saúde à pandemia de COVID-19: uma luz ao fundo do túnel?” e “Prevenção e controlo da COVID-19 no contexto africano”. Disponibilizamos ainda os artigos de opinião “A responsabilidade social ao serviço da literacia em saúde”, “How we should think about drug development”, “Falácias, desconhecimento e má-fé em tempos de pandemia, “quem quer vacinar a população mundial contra o ensino à distância?”, e as secções de documentos publicados, normas aprovadas e em consulta, legislação relevante, agenda e prémios para o próximo trimestre, que julgamos ser de relevante interesse para os nossos leitores.O Diretor                                        José Aranda da SilvaO Editor-ChefeSérgio VilãoMarço 2021 

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