SUMMARY
No exato momento em que essas linhas são digitadas, dezenas de grupos de trabalho se debruçam em projetos de impressão 3D de válvulas respiratórias, muitos dos quais sem saber sequer onde elas serão empregadas. Outras dezenas de equipes estão debruçadas sobre projetos de ventiladores pulmonares ao estilo “faça você mesmo”, com extensa cobertura midiática. Nesse mesmo diapasão, ainda ontem, matéria publicada em site da Câmara dos Deputados (CD, 2020) comentava sobre “quebra de patente” e fazia referência a um órgão de nome “Instituto Nacional do Patrimônio Intelectual (INPI)” (sic).Sem entrar no mérito das intenções, nem dos erros conceituais ou de grafia, restam algumas perguntas:- Quão efetivas podem ser tais ações, por exemplo, em um quadro de produção de equipamentos médicos de alta complexidade?- Será que não podemos aprender, por exemplo, com patentes já publicadas, com seus inventores ou titulares?- Além daquilo que está descrito nas patentes em si, quanto mais há de barreiras de acesso a componentes, materiais e “know-how”?- Não seria mais efetiva a realização de parcerias com empresas produtoras de dispositivos já testados e registrados?Infelizmente, a impressão que se tem é que, com raras exceções, nem sequer endereçamos perguntas básicas.Ano após ano, observamos desindustrialização e perda de capacidade produtiva em nosso país. Em muitas áreas, desaprendemos mesmo que simplesmente (o que não é tão simples assim) fazer engenharia reversa para copiar ou fabricar aquilo que já existe. Situações de crise, como a que estamos vivendo, apenas evidenciam nosso grau de (des)preparo tecnológico.E o que nós (autores e leitores da revista Cadernos de Prospecção) temos a ver com isso?Essa é uma pergunta que fica em aberto para reflexão individual. Talvez, mais importantes do que as respostas em si seja o ato de nos questionarmos e, mais do que isso, a atitude que cada um de nós terá frente à crise.Nesse contexto, a revista Cadernos de Prospecção traz, de forma pioneira, uma Edição Especial, com contribuições espontâneas de autores com foco no enfrentamento da pandemia causada pelo agente etiológico coronavírus SARS-COV-2, que ocasiona a doença COVID-19.No exíguo espaço de apenas três semanas, 59 manuscritos foram recebidos e passaram pela avaliação às cegas de dois pareceristas, seguida da avaliação pela Comissão da Edição Especial e finalizada com a apreciação dos manuscritos pelo Conselho Editorial. Deles, 18 (31%) foram aceitos, 39 (66%) foram recusados e 2 (3%) seguem em avaliação para possível inserção na Edição v.13 n.3 de Junho de 2020. A secção Coronavírus continuará aberta até que se extinga esta pandemia e os novos artigos serão inseridos à medida que forem aceites.Os 18 artigos que compõem a presente Edição Especial reúnem contribuições de79 autores afiliados a 36 organizações dos setores acadêmico, empresarial e governamental. Seus temas incluem: atualidade, economia, políticas, legislação, equipamentos médicos e de proteção individual (respiradores, máscaras, etc.), fármacos e testes clínicos, além de prospecções de artigos e patentes.Esperamos que os conhecimentos e convites a reflexões aqui reunidos possam contribuir para que a nossa sociedade faça frente e saia fortalecida dessa pandemia !