SUMMARY
O velho problema da influência da cultura sobre a formação do conhecimento voltou a chamar muito a atenção dos psicólogos. O interesse pela cultura está ligado à defesa de posições que se atribuem a Vygotski, cuja obra contrapõe-se à de Piaget, que é criticado pela sua falta de atenção à influência social e à cultura. Analisa-se neste artigo a pretendida separação entre desenvolvimento natural e cultura, que Vygotski estabelece, e defende-se que essa separação não pode ser estabelecida. Examinam-se, também, as idéias do autor soviético sobre a formação de conceitos científicos e sobre as funções psicológicas superiores. Mostra-se que a posição de Vygotski tem muitos traços empiristas, pois enfatiza enormemente a influência do meio, o que entraria em contradição com seu pretendido caráter marxista. Além disso, ele não consegue dar conta das transformações que acontecem no interior do sujeito por ocasião da construção de novos conhecimentos; aliás, é este o principal problema que os psicólogos precisam enfrentar. Sinaliza-se, ainda, que a posição de Piaget possui elementos para explicar essas transformações.