SUMMARY
A ideia da pluralidade em psicanálise é tipicamente junguiana. Jung, a partir da teoria dos complexos, desenvolveu seu trabalho dando prioridade ao inconsciente. É o fundo comum da humanidade quem traz novas criações e possibilidades; e nós, junto com desenvolvimento pessoal, fazemos parte de uma base comum da humanidade: o inconsciente coletivo. Foi com esse conceito que Jung trouxe uma nova perspectiva de abordar a psique. Fernando Pessoa poeta recebe personagens, poemas e imagens do inconsciente, consegue acolhê-las e trabalhar com as imagens primordiais que lhes chega. Em suas obras, ao mesmo tempo em que o autor joga com o real e a fantasia, nos revela o surgimento desse sujeito múltiplo. A invenção dos heterônimos pelos quais assume identidades diferentes foi a resposta encontrada por Pessoa para a identidade cultural representada pelo sujeito unificado, em crise. riginados no espaço da invenção, os heterônimos explodem de maneira profética anunciando a fragmentação do indivíduo moderno. Ao nascer do fundo comum, Campos, Reis e Caeiro — manifestações sinceras — ganham vida própria e os diferentes “eus” são tratados como elementos autônomos. O poeta observa de longe, questiona sua unidade e se põe em processo. É um trabalho sem fim a tarefa das subpersonalidades em busca da unidade, da totalidade, tema que se faz presente em toda a sua obra. Jung assim como Pessoa concebe a psique como pluralidade e desconstrói a ideia de sujeito unitário. A partir dessa percepção se rompe o conceito de unidade da psique e a preponderância da vontade.