SUMMARY
Entre os desafios da sociedade contemporânea, a compreensão sobre o porquê e como as mulheres se organizam em coletivos representou uma senha para a orientação dos trabalhos de pesquisa em interface com extensão, desenvolvidos a partir do projeto “Relações de Gênero: Configurações e Reconfigurações da Divisão Sexual do Trabalho entre Mulheres Negras, Assentadas da Reforma Agrária e da Economia Solidária”. O principal objetivo deste artigo é apoiar a compreensão das relações de trabalho e gênero a partir de atividades de pesquisa e extensão realizadas junto a três grupos organizados de mulheres: Olhos d´água: Produzindo e Preservando do Assentamento Santo Dias, coordenado pelo MST, no município de Guapé, mulheres negras do Conselho Municipal de Políticas de Igualdade Racial de Lavras e mulheres da Economia Solidária do município de Prados, todos os três situados no estado de Minas Gerais. As configurações e reconfigurações da Divisão Sexual do Trabalho foram identificadas nos três grupos, como dimensões que podem ajudar ou limitar o fortalecimento organizativo das mulheres. Procuramos construir informações sobre a realidade em que estão inseridas, de forma dialogada, o que significou ora atividades específicas com cada grupo, ora envolvendo os três grupos, e interagindo na sequência com outros grupos de mulheres. A metodologia utilizada durante os dois anos de execução do projeto contou com métodos quantitativos e qualitativos de obtenção de informações, com oficinas pedagógicas, dois Encontros Intermunicipais, visita a um grupo de mulheres chamado Noiva do Cordeiro no município de Belo Vale, na região metropolitana de Belo Horizonte, participação na organização do II Encontro Municipal de Economia Solidária de Prados e do Encontro da Juventude Negra em Lavras: Violência em Foco. Simultaneamente, conduzimos uma pesquisa sobre trabalho, com o objetivo de identificar e compreender as relações entre espaço reprodutivo e produtivo em grupos que mantêm diálogos com movimentos sociais, entre eles, o Movimento Negro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST e o Movimento de Economia Solidária. Como um dos principais resultados, podemos elencar as especificidades organizativas de cada grupo que lidam com processos de mediação distintos, onde pautar a importância do trabalho das mulheres e todas as dimensões a ele correlacionadas é ainda tarefa feminina. No âmbito privado, as negociações para a divisão de tarefas reprodutivas abrem um leque de possibilidades familiares demandado pela atuação das mulheres no espaço público, quaisquer que sejam as dimensões econômicas específicas a cada coletivo. Cuidar da casa e dos quintais, dos (as) filhos (as) e dos (as) idosos (as) ainda é uma pauta prioritariamente feminina, salvo raras exceções. Mesmo assim, compreendemos que a participação nos coletivos de mulheres contribui significativamente para distintos processos de empoderamento, seja cognitivo, político ou econômico dessas mulheres.