SUMMARY
Este artigo busca produzir uma reflexão sobre o estatuto da produção e circulação das imagens de violência no Brasil. Cruzando um percurso histórico que parte dos usos da exposição pública dos castigos e execuções de negros escravizados até a atual circulação de flagrantes de violência policial a partir das redes digitais, apontamos como a mídia hegemônica atua em consonância com o projeto autoritário e genocida das elites nacionais. Ao produzirem enquadramentos estigmatizantes – contra negros, pobres, moradores das periferias e outras populações oprimidas – na cobertura da segurança pública, os grandes veículos de comunicação irão legitimar a atuação violenta das forças repressivas. Neste cenário, os flagrantes de violência policial – potencializados pela disseminação de câmeras e pelo acesso crescente à internet e às mídias sociais – irão causar comoção pública e ativar "redes de indignação" que buscam expor a verdade, responsabilizar os agentes da violência e promover mudanças nas políticas de segurança pública.