SUMMARY
O presente trabalho busca investigar o envolvimento das elites políticas e ilustradas no Ceará do último quartel do século XIX, com as questões educacionais, como expressão das disputas entre os ideais ultramontanos, católico-conservador e liberais, em um momento no qual a estrutura político-social brasileira estava acentuadamente marcada pelos conflitos entre o Estado Imperial e a Igreja Católica. Tal questão, perpassa a emergência à época da renovação do currículo primário, animada pelas discussões em torno da educação, considerada mola propulsora para o progresso material e moral, da laicização e secularização do ensino, atendendo a uma proposta educacional que valorizasse o ensino intuitivo e a ciência, atados à formação do homem laborioso, obediente e amante da pátria. Assim, do ponto de vista teórico-metodológico, o trato com as fontes históricas (cartas pastorais, jornais, atas de assembleia, relatórios de viagem e pareceres educacionais), será feito com a intenção de tomá-las em suas discordâncias, desvios e em sua dinâmica conflitual, em um movimento que, vai do “campo das ideias” ao real cotidiano do povo pobre e humilde, a quem se destinava a formação primária focada na imposição de valores de moral e trabalho. Vê-se as contradições entre a busca pelo que se considerava moderno e civilizado e a estrutura político-social cearense, baseada na dependência econômica da maioria da população, das altas taxas de analfabetismo e do exercício de atividades informais para a garantia do sustento familiar.