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“Tanto de meu estado me acho incerto”: contradições do amor, de Catulo a Ovídio

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O mais famoso texto da literatura latina que exprimiu os paradoxos do amor é o célebre Carmen 85 de Catulo, que abre justamente com o oximoro Odi et amo. A formulação de uma tal visão antitética do amor teve, no entanto, bem mais largo acolhimento entre os poetas de Roma. Lembremos, por exemplo, Virgílio, na Eneida, onde a paixão entre Dido e Eneias, nomeadamente no momento do seu desenlace trágico, faz convergir ambos os sentimentos, ou melhor, faz operar, de uma forma pouco menos que abrupta, o trânsito de um para o outro. Propércio, em certa medida, pode ser lido de modo não muito diverso, na relação conflituosa que manteve com Cíntia. E o próprio Catulo não exprime de forma diferente a sua relação amorosa com Lésbia. Ovídio, entretanto, é um poeta raramente citado a este respeito. Há um poema, todavia, que segue de perto o modelo catuliano: o turbilhão de sentimentos contra-ditórios que Catulo exprimiu, de modo sublime, no Carmen 85, desenvolve-o o Sulmonense, com não menor expressividade, na elegia 3.11b dos Amores. Aí, a luta permanente entre os dois sentimentos, o ódio e o amor, é expressa com uma força e uma intensidade notáveis; a oposição dialéctica entre ambos transforma-se numa quase obsessão, ao longo de vinte versos. O objectivo deste artigo é, justamente, demonstrar a forma como este tema alcançou largo acolhimento na poesia latina, assim antecipando a fortuna que viria a obter na literatura de todos os tempos.

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