SUMMARY
Os neuro^nios-espelho sa~o neuro^nios especializados, capazes de ecoar no corpo de alguém movimentos percebidos no corpo de outra pessoa, através de algo que se assemelha a uma empatia sinestésica involuntária. A descoberta desses neuro^nios provocou uma reavaliac¸a~o de grande envergadura, a respeito do papel da empatia e das relac¸o~es Eu-Outro na construc¸a~o do sentido do self nas cie^ncias cognitivas, artes e cie^ncias humanas. A sinestesia espelho-tátil (quando a percepc¸a~o de um toque no corpo de outra pessoa induz naquele que a observou a sensac¸a~o de ter sido tocado da mesma maneira) é uma das formas que essa “empatia” assume. Este artigo toma a sinestesia espelho-tátil como um ponto de partida para a reconsiderac¸a~o do conceito de sinestesia como um todo, e particularmente sua relac¸a~o com a empatia, e por sua vez, a relac¸a~o da empatia com o movimento. Argumentamos que o vocabulário costumeiramente utilizado para analisar essas questo~es – identificac¸a~o, imagem do corpo, defeito, ou “confusa~o” no esquema espacial do corpo – esta~o desgastados por um viés cognitivista, que carrega consigo pressuposic¸o~es que eclipsam a complexidade da organizac¸a~o emergente da experie^ncia. Para corrigir os rumos, faz-se necessária uma reorganizac¸a~o filosófica. Este artigo busca encaminhar esse projeto com o auxílio da filosofia orientada ao processo de C.S. Peirce, Henri Bergson e A.N. Whitehead, propondo um quadro conceitual centrado na noc¸a~o de “corpo virtual”, composto pela inclusa~o integral mútua das qualidades potenciais da experie^ncia, seletivamente “compostas” no movimento. A e^nfase na auto-composic¸a~o performativa da experie^ncia envolve a substituic¸a~o do atual modelo de cognic¸a~o em favor de um modelo fundamentalmente estético.