SUMMARY
Parte do Budismo japonês é voltada para os ritos mortuários. O culto aos ancestrais engloba procedimentos fundamentados, principalmente, nas oblações realizadas no interior de oratórios domésticos, os chamados butsudan, e em torno das tabuletas “memoriais” denominadas ihai. O objetivo do presente artigo é analisar como o imaginário mortuário constitui apropriações que o Budismo nipônico realizou da religiosidade japonesa, marcada pelos cultos às entidades locais ou kami, desde sua introdução em território nipônico a partir do século VI d.C. Para isso, é utilizado o conceito de sincretismo, tal como definido por Rafael Shoji. Como discussão, pode-se afirmar que o traço mortuário remete às apropriações e sincretismos de uma religiosidade que, desenvolvendo-se em lugares e estruturas sociais diferentes daquelas nas quais foi concebida, passou a acomodar e ressignificar estrategicamente novos elementos num sistema religioso dinâmico.