SUMMARY
Neste artigo, apresentamos uma abordagem analítica desenvolvida no âmbito do projecto de investigação “Raça” e África em Portugal: um estudo sobre manuais escolares de história. Em particular, exploramos a construção de uma visão eurocêntrica da história nacional/europeia resultante de uma epistemologia assente numa concepção teleológica do tempo histórico e no desenho de uma geografi a que se baseia na dicotomia centro/periferias. Para tal, propomos três linhas analíticas: (i) o emprego do espaço/tempo para a construção de uma narrativa histórica lógica; (ii) o uso do Estado nacional democrático como paradigma de administração política, social e económica; (iii) a naturalização de relações de poder e violência, de forma a produzir uma narrativa despolitizada de certos processos cruciais (como a escravatura ou a cristianização). De seguida, analisamos as implicações deste enquadramento para a educação, argumentando que a prevalência de uma epistemologia positivista – que propõe uma abordagem compensatória à diferença, por meio da inclusão de outras versões da história – é incapaz de desafi ar e transformar as narrativas eurocêntricas ofi ciais. Concluímos com a proposta de uma abordagem empírica para o estudo dos manuais escolares que considere a diversidade de actores envolvidos na sua produção e circulação e a multiplicidade de leituras dos textos.