SUMMARY
A epístola de Prisciano a Juliano, que prefacia as edições modernas das Institutiones grammaticae (séc. VI d.C.), oferece interessantes aspectos do projeto discursivo desenvolvido pelo gramático latino em seu tratado gramatical. Entre eles, destaca-se o fato de o gramático evocar os autores gregos – e não os latinos – como os modelos que se pretende seguir. Embora a obra de Prisciano seja uma gramática cuja língua a ser descrita fosse o latim – e não o grego – entre os autores de tratados gramaticais citados, estão, por exemplo, os autores gregos Apolônio Díscolo (séc. II d.C.) e Herodiano (séc. III d.C.), enquanto não havia menção específica a qualquer autor latino – nem mesmo aos consagrados Varrão (séc. I a.C.) e Donato (séc. IV d.C.). Neste artigo, apresentamos uma avaliação dessa epístola, considerando, por um lado, sua relação com as Institutiones grammaticae em seu contexto de produção e destacando, por outro, o papel da memória discursiva e da imitatio como importantes elementos na elaboração de um discurso de afirmação de uma identidade cultural greco-romana, que se realiza, tanto pela retomada dos aspectos técnicos da gramática grega de Apolônio Díscolo, quanto pela releitura crítica desse legado, diante da tradição latina.