SUMMARY
O artigo analisa a trajetória recente do conceito de transtorno de personalidade antissocial (TPA) no campo da psiquiatria enquanto categoria nosológica que revela algumas das principais tendências contemporâneas dos processos de medicalização da vida social. Examina-se, em particular, seu desenvolvimento como resultado do protagonismo que alcançou a noção de transtorno nos processos de expansão do campo de objetos da psiquiatria, e apresentam-se quatro hipóteses sobre o desenvolvimento do TPA como categoria diagnóstica, as quais se referem aos seguintes aspectos: transferência para o campo da medicina psiquiátrica de funções de controle social de certos comportamentos; perfil dos modelos etiológicos em torno da constituição da personalidade antissocial; definição da família, especialmente da família em contextos de pobreza urbana, como agente patogênico, e caráter moral dos critérios consagrados nos manuais e instrumentos utilizados para o diagnóstico de TPA.