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SUBJETIVIDADE, MONTAGEM E ÉTICA NO CINEMA DOCUMENTÁRIO: PISTAS METODOLÓGICAS ENTRE EDUARDO COUTINHO E WALTER BENJAMIN

SUMMARY

Instituição de um regime cinematográfico, o documentário se estabeleceu sob uma forte conotação representacional, e tornou-se um método para fornecer, a partir de imagens, um sentido de factualidade à investigação da realidade. A narrativa documentária dominante ancora-se em tons conclusivos sobre o real, produz endereçamentos pré-estabelecidos entre histórias e imagens, constrange os acasos. Para Walter Benjamin, os vencedores narram a história de uma perspectiva continuísta e teleológica. Os derrotados emergem nestas narrativas como carentes e destituídos de coragem ou de ousadia. A imagética da derrota se subsidia na naturalização da miséria, no embotamento de qualquer sensibilidade coletiva – e, portanto, política – que se possa forjar sobre a miséria. O modo como se retrata o outro e o mundo são índices das relações de poder em jogo, implicam posições e apostas éticas. Nestas linhas que aqui se tecem entre a escrita da história e a experiência fílmica do  documentário, desejou-se produzir um deslocamento na tradição histórica dos vencedores pela via de um outra imagética dos derrotados, apontada no documentário “Boca de Lixo”, do cineasta Eduardo Coutinho. O método de construção das imagens em “Boca de Lixo” se aproximaria das pistas benjaminianas para a atividade do historiador materialista, para o qual o passado deixa de ser um fato objetivo e transforma-se em um fato de memória, uma “atualidade intensiva”. Em “Boca de Lixo” Coutinho aciona uma interrupção das representações e clichês que temos da miséria e do lixo através de imagens de um “presente que destrói o contínuo da história” (BENJAMIN, 2009).

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