SUMMARY
Salvador Allende chegou à presidência do Chile em 1970, enfrentando grande oposição desde o início. Sua posse, no entanto, foi garantida por muitos dos grupos contrários a seu programa, graças ao pensamento hegemônico de defesa da legalidade, que fazia o Chile se considerar uma exceção democrática num continente repleto de ditaduras. Este artigo busca analisar, à luz da teoria de Ernesto Laclau, como o discurso democrático foi gradativamente perdendo força, sendo substituído por um significante vazio pela oposição: a necessidade de “expulsar a esquerda do poder”, que englobava uma cadeia de equivalências nas quais a resolução dos problemas econômicos e políticos passava pela derrubada de Allende. Frente à crise, essa construção ajudou a atrair setores cada vez mais amplos à ideia de substituir o governo, como efetivamente ocorreria em 1973, com golpe de Estado liderado por Pinochet.