SUMMARY
Este artigo propõe a leitura do romance De mim já nem se lembra (2007), de Luiz Ruffato, a partir da perspectiva do realismo refratado, por meio da qual há a possibilidade de criação e atribuição de valor aos modos de vida de sujeitos esquecidos pela história. Ao entrecruzar instâncias narrativas distintas, tanto pela narração autodiegética quanto pela editoração de supostas cartas de autoria de José Célio, irmão do narrador, Ruffato revitaliza formas distintas de representar e de problematizar o real. Nessas articulações entre diferentes estratégias de apropriação realistas, destacam-se as epístolas, cuja escrita registra a vida cotidiana de um sujeito comum, que presencia e vivencia experiências da ditadura civil-militar. Por fim, com base nos estudos da nova história, constatam-se outras dimensões dos anos de chumbo por meio de “pormenores concretos” nas epístolas, bem como a narração, que impossibilitados de representar o real per se, configuram-se refratários.