SUMMARY
O presente texto é uma resenha de Criar um mundo do nada: a invenção de uma historiografia da música popular do Brasil, de José Geraldo Vinci de Moraes, publicação de 2019 que integra a Coleção Entr(H)istória, do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo em parceria com a Editora Intermeios. O livro resulta da tese de livre-docência defendida por Vinci de Moraes em 2017 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP) e discorre sobre a atuação de cronistas e memorialistas na construção da historiografia da música popular do Brasil. Esse assunto se inscreve numa reflexão mais ampla, que perpassa todo o trabalho, sobre os limites e conflitos entre memória e história. Conforme detalha as trajetórias de Almirante, Ary Vasconcelos, Edigar de Alencar, Jota Efegê, Lúcio Rangel, Vagalume, entre outros personagens, Vinci de Moraes vai sublinhando os caminhos e mecanismos de construção da narrativa hoje hegemônica sobre a música popular brasileira. Ao longo dos oito capítulos, o autor apresenta a constituição dessa historiografia como um extraordinário processo criativo iniciado por volta dos anos 1930, a partir de um discurso inicialmente marginal, até atingir, na década de 1970, reconhecimento institucional e formalidade intelectual, passando a compor o imaginário cultural do país. Se os personagens investigados foram capazes de “criar um mundo do nada”, o trabalho de Vinci de Moraes recria esse mundo, na medida em que propõe uma interpretação desse processo. É mais um fio dessa grande trama de invenções historiográficas.