SUMMARY
Uma das questões que se têm colocado, no que diz respeito à constituição do cânone literário, é a da representatividade feminina. É seguro afirmar que, ao longo dos séculos, a produção literária de autoria feminina vem sendo deixada em condição de marginalidade, em relação às obras de autoria masculina. Uma das consequências dessa relação de desigualdade é o surgimento, em meados da década de 1980, da Ginocrítica, vertente da Crítica Literária Feminista que traz ao centro da discussão a questão da existência de mulheres que escrevem - particularmente sobre questões que dizem respeito à condição feminina nas diferentes sociedades. Sob tal perspectiva, este artigo discute, comparativamente, a representação da mulher e de sua condição em dois contos de tempos e culturas distintos: "The Story of an Hour" (1894), da norte-americana Kate Chopin (1851-1904), e "Marido" (1996), da portuguesa Lídia Jorge (1946), levando em conta as estratégias estéticas e narrativas de que lançam mão para discutir, em seus contextos, diferentes formas de opressão a que a sociedade submete as mulheres. Servem de arcabouço teórico as reflexões de, entre outros, Gilbert e Gubar (1984), Muecke (1995) e Bachelard (2003).