SUMMARY
O trabalho busca discutir algumas das particularidades da relação entre sociedade e natureza na Amazônia à luz da noção miltoniana de “flexibilidade tropical”, que, adaptada ao contexto da realidade geográfica em foco, é denominada de “flexibilidade equatorial”. Com base em revisão bibliográfica e em experiências de pesquisas realizadas em diferentes sub-regiões da porção centro-oriental da Amazônia brasileira, são abordadas algumas das expressões desse importante atributo da produção social do espaço regional, notadamente as cidades organicamente solidárias, as práticas econômicas culturalmente flexíveis e os objetos de grandeza cidadã. Procura-se mostrar que essas e outras manifestações da “flexibilidade equatorial” sugerem a possibilidade de pensar alternativas aos modelos econômicos de ordenamento territorial impostos exogenamente e que, por essa razão, pouco dialogam ou mesmo negam as particularidades da sociedade e da natureza amazônicas. Desse modo, conclui-se que os saberes locais, as culturas populares, as formas espaciais inclusivas, as divisões locais e regionais do trabalho, os tempos lentos e as solidariedades orgânicas constituem atributos fundamentais a serem considerados na concepção e na implantação de um ordenamento de natureza cívico-territorial, necessário para garantir um patamar de qualidade de vida mais satisfatório e sintonizado com a dinâmica da vida cotidiana e com as demandas cidadãs dos povos da Amazônia.