Artefatos musicais em textos literários: a viola no Rio de Janeiro do século XIX

Renato Moreira Varoni de Castro

Resumo


Este artigo examina criticamente como a viola (cordofone dedilhado) foi representada em dez romances publicados por autores brasileiros no Rio de Janeiro do século XIX. Discutem-se alguns aspectos da antropologia da literatura e limitações das representações de música e artefatos musicais em textos ficcionais. Daquelas publicações são detalhadas duas perspectivas que dominam os discursos musicais e sociais no Rio e são debatidos como aqueles pontos-de-vista revelam distintos valores sociais e culturais da viola e do violão. Narrativas das elites são descritas, principalmente, por Joaquim Manuel de Macedo, autor de cinco romances selecionados do período. Estes são contrastados com o romance Memórias de um Sargento de Milícias, no qual Manuel Antônio de Almeida ricamente descreve a vida musical das classes baixas no Rio de Janeiro. O artigo conclui que, apesar de haver alguma ambiguidade relativa à organologia dos cordofones dedilhados inscritos na literatura ficcional analisada, pode-se atestar que as violas estavam inseridas em muitos contextos sociais e culturais e que eram usadas por indivíduos de diferentes gêneros e origens étnicas. No entanto, ainda que os romances não possam certificar a decadência da viola na cidade, percebe-se a progressiva diminuição de representações do instrumento e a concomitante ascendência do violão no decorrer do século XIX no Rio de Janeiro. 


Palavras-chave


Artefatos musicais em textos literários; Viola; Violão; Cordofones luso-brasileiros; Rio de Janeiro, século XIX;

Texto completo:

PDF (English)

Referências


ALMEIDA, M. A. D.; SOUSA, R. W.; HOLLOWAY, T. H.; SÜSSEKIND, F. Memoirs of a Militia Sergeant: a Novel. Oxford: Oxford University Press, 1999.

ALMEIDA, M. A. D.; JAROUCHE, M. M. Memórias de um sargento de milícias. Cotia-SP, Brazil: Atelie, 2000.

BUDASZ, R. The Five-Course Guitar (Viola) in Portugal and Brazil in the Late Seventeenth and Early Eighteenth Centuries. Thesis (PhD). University of Southern California, 2001.

CLIFFORD, J. On Ethnographic Allegory. In: CLIFFORD, J.;

MARCUS, G. E. (Ed.). Writing Culture: the Poetics and Politics of Ethnography. Berkeley, Calif: University of California, 1986. p. 98-121.

CORRÊA, R. A Arte de pontear Viola. Brasilia, Curitiba: Editora Autor, 1983. . Viola caipira. Brasília: MusiMed, 2000.

DICIONÁRIO CRAVO ALBIN da Música Popular Brasileira. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br. Acesso em: jun. 2015.

EVANS, T.; EVANS, M. A. Guitars: Music, History, Construction and Players from the Renaissance to Rock. New York: Paddington Press, 1977.

GRUNFELD, F.V. The Art and Times of the Guitar: An Illustrated History of Guitars and Guitarists. New York: Macmillan, 1969.

GUIMARÃES JÚNIOR, L.; SÜSSEKIND, F. A Família Agulha: romance humorístico (1870). Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2003.

MACEDO, J. M. D. Rosa. Rio de Janeiro: Officinas graphicas do Jornal do Brasil, 1931.

__________. As mulheres de mantilha. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1988.

__________. O moço loiro. São Paulo: Ática, 1994.

__________. A Moreninha. Rio de Janeiro: Record, 2000.

__________. Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. v. I. São Paulo: Planeta do Brasil, 2004.

MATRIZ NET. Catálogo coletivo online dos Museus portugueses, Disponível em: http://www.matriznet.dgpc.pt/matriznet/home.aspx. Acesso em: jun. 2015.

MIMO: Musical Instruments Museums Online. Disponível em: http://www.mimo- international.com/MIMO/. Acesso em: jun. 2015.

OLIVEIRA, E. V. D. Instrumentos musicais populares portugueses. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1966.

_________. Instrumentos musicais populares portugueses. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.

_________. Instrumentos musicais populares portugueses. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.

PEREIRA, A. Prefácio. In: MACEDO, J. M. D.; PENALVA, G.;

PEREIRA, A. Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Z. Valverde, 1942.

PEREIRA, N. M. Compêndio narrativo do peregrino da América. Rio de Janeiro: Academia brasileira de letras, 1988.

SCHWARCZ, L. M.; AZEVEDO, P. C. D.; & COSTA, A. M. D. A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à Independência do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

TABORDA, M. Violão e identidade nacional: Rio de Janeiro, 1830-1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

TEIXEIRA E SOUSA, A. G. O filho do pescador. Rio de Janeiro: Artium Editora, 1997.

TINHORÃO, J. R. A música popular no romance brasileiro. São Paulo: Editora 34, 2000.

TRAVASSOS, E. O destino dos artefatos musicais de origem ibérica e a modernização no Rio de Janeiro (ou como a viola se tornou caipira). In: SANTOS, G.; VELHO, G. (Ed.). Artifícios & artefactos: entre o literário e o antropológico. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. p. 115-134.

TURNBULL, H. The Guitar, from the Renaissance to the Present Day. New York: C. Scribner's Sons, 1974.

TYLER, J.; SPARKS, P. The Guitar and Its Music: From the Renaissance to the Classical Era. Oxford: Oxford University Press, 2009.

VILELA, I. Cantando a própria história: música caipira e enraizamento. São Paulo: Edusp, 2013. WATSON, C. W. Anthropology and Literature. In: FARDON, R.; GLEDHILL, J. (2012).

The SAGE Handbook of Social Anthropology. London: SAGE, 2012. p. 248-262. WHITE, H. V. Metahistory: the Historical Imagination in Nineteenth-Century Europe. Baltimore: Johns Hopkins University Press,1973.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Direitos autorais 2015 Renato Moreira Varoni de Castro

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

 
OPUS - Revista Eletrônica da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM)
ISSN 0103-7412 (versão impressa, 1989-2008), ISSN 1517-7017 (versão online, 2009- )