Conflitos socioambientais por água no Nordeste brasileiro: expropriações contemporâneas e lutas sociais no campo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-02592019v22n2p342

Resumo

A mercantilização da água expressa de maneira inequívoca o agravamento das desigualdades sociais no campo, resultando no aumento dos conflitos que envolvem a posse, a propriedade e os usos da água pelas populações rurais. Este artigo tem como objetivo refletir sobre os conflitos por água na região do Nordeste brasileiro, problematizando-os à luz de suas determinações estruturais: a expansão do agronegócio e seus impactos sobre as populações do campo. Este resulta de uma ampla pesquisa bibliográfica, realizada em nível de doutorado, além da análise de documentos institucionais que versam sobre a temática. Assim, apreende-se que o acirramento dos conflitos por água na região está vinculado à apropriação privada da terra, estabelecendo-se o confronto entre classes e frações das classes fundamentais: de um lado, o agronegócio e de outro campo: ribeirinhos, quilombolas, pescadores(as), indígenas e pequenos agricultores, as quais estabelecem seu metabolismo social (FOSTER, 2005) em estreita dependência dos recursos naturais.

Biografia do Autor

Sandra Maria Batista Silveira, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco

Doutorado em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Maria das Graças e Silva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco

Doutorado em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Publicado

2019-08-22