SUMMARY
O presente trabalho se debruça sobre a análise do gótico feminino, em especial, as memórias, a maternidade e a monstruosidade, no romance Beloved (1987), da escritora Toni Morrison, e na adaptação fílmica homônima, dirigida por Jonathan Demme em 1998. Em seu romance, Morrison aborda padrões hegemônicos e opressores cujas vítimas são mulheres negras e destaca o fantasma do passado, ligado aos terrores da escravidão e discriminação racial, com destaque para a opressão, a violação ou o encarceramento de mulheres por vilões em espaços domésticos aristocratas, a ansiedade que envolve suas gestações e a restauração ou a perda de suas identidades. Investiga-se como o filme Beloved (1998) traduz o gótico feminino e as questões raciais da obra de Morrison para as telas do cinema. Este estudo analisa como as memórias e o passado, a maternidade e a monstruosidade feminina se constituem em aspectos importantes na construção do gótico feminino no romance, além de discutir como as questões raciais do gótico pós-colonial se relacionam na concepção das memórias, da maternidade e da monstruosidade feminina. Não obstante, investiga como a adaptação fílmica Beloved (1998) reescreve as particularidades do estilo gótico, trazendo à tona as questões raciais da obra de Morrison, do mesmo modo que investiga como a construção da relação entre a vertente feminina e pós-colonial no romance e em sua adaptação fílmica está vinculada à contemporaneidade. A partir das análises realizadas, constata-se que, como elementos característicos do gótico pós-colonial somados ao gótico feminino, as memórias traumáticas de Sethe permitem que a sua identidade seja desvelada e que suas ações sejam, de certa forma, justificadas. A privação ao amor materno e à maternidade, somada às violências enfrentadas na Doce Lar, fazenda em que laborava, permite que sua monstruosidade seja constituída. A partir disso, tem-se uma Sethe que, desapropriada da maternidade e amando incondicionalmente seus filhos, busca, incessantemente, protegê-los do perigo iminente de uma sociedade racista e escravocrata. Com isso, ao cometer o infanticídio como forma de proteção, Sethe é assombrada pelo espírito de sua filha do meio e forçada a viver o resto de sua vida carregando a culpa de tê-la amado demais, quando era esperado que servisse aos brancos.