SUMMARY
O artigo propõe uma análise interdisciplinar entre a Literatura do gênero discursivo diário, a Linguística e a Tradução. Aborda a escrita de si a partir dos pressupostos de Lejeune (2008), associada à Teoria da Enunciação, de Benveniste (2005; 2006), relacionando as categorias de pessoa, tempo e espaço à ideia de que toda a tradução é uma reescrita e uma manipulação (LEFEVERE, 2007). O objetivo é evidenciar que a tradução para a língua inglesa da obra de Carolina de Jesus, intitulada Quarto de Despejo: diário de uma favelada (QD), é resultado de uma nova enunciação, que não necessariamente manteve a expressão da subjetividade do enunciado de origem, alterando seu sentido. Para tal, realiza-se uma análise comparativa de trechos de QD e sua respectiva tradução estadunidense — Child of the Dark: the diary of Carolina Maria de Jesus —, a partir das marcas e dos traços discursivos em ambos os enunciados e os efeitos de sentido produzidos. O cotejo exploratório e bibliográfico entre as obras ratifica a enunciação como instauração do sujeito no enunciado e a tradução como processo geracional de uma nova enunciação que busca aproximar os sentidos, mas não o realiza por completo.